Toda a minha carreira profissional foi a representar e recrutar, a nível internacional, para os “melhores” colégios e universidades do mundo. Imagine escolas com mais 600 anos de história ou com campus tão modernos que parecem um parque de diversões, equipados com estábulos, campo de golfe e a mais moderna tecnologia. Colégios onde se cobram mensalidades superiores a 24.000 Reais e que albergam as elites mundiais. Até certo momento, eu estava convencido que estas eram, de facto, as melhores instituições de ensino do mundo.
Contudo, mesmo conhecendo bem esta realidade, quando chegou a minha vez de tomar uma decisão sobre a educação dos meus filhos comecei a ponderar sobre que tipo de educação queria para eles. Comecei a desconstruir e analisar a educação de forma crítica. Esqueci as etiquetas que eu próprio usava para representar educação de qualidade, tais como “tem mais de 600 anos de história”, “tem múltiplos esportes como natação, rugby, golfe, tênis ou hipismo”, “nesta escola andou o filho do presidente X” ou “tem os alunos finalistas com as melhores notas de entrada na faculdade”, comumente utilizadas por todos nós como forma de atribuir qualidade à Instituição. Se analisarmos puramente a educação, nenhuma destas etiquetas tem qualquer valor para uma decisão educacional.
Outro valor que estas escolas têm e que eu, pessoalmente, desvalorizo, é o facto de nelas estarem as chamadas elites, onde os filhos das pessoas mais influentes estudam e, claro, as mais ricas. A criança com piores resultados neste tipo de escolas terá certamente uma renda muito superior ao melhor aluno de uma escola pública, apesar de o tipo de educação ser exatamente o mesmo. As diferenças são puramente estéticas e, por si só, etiquetas de venda. De uma forma prática, as turmas terão 8 alunos ao invés de 20, o professor será doutorado ao invés de licenciado e a atividade física será golfe ou ténis no lugar de futebol ou voleibol. Apesar disto, o que é certo é que, em termos de tipo e qualidade de educação, todas oferecem o mesmo.
A primeira análise foi sobre qual o sistema e modelo de ensino que queria para os meus filhos. Tendo conhecimento de todos os métodos e modelos de ensino, em análise profunda entendi que todos eles são instrucionistas, dando instrução em vez de permitir a aprendizagem. Aprender e decorar para uma prova são opostos, e o meu interesse estava no aprender. Quero que os meus filhos aprendam qualquer tópico que lhes interesse, de forma apaixonada e em profundidade. Quero que saibam pensar em vez de copiar.
Na Open Learning, cada unidade é uma comunidade de aprendizagem. Cada criança segue os seus interesses. Muitos acham isso errado, argumentando que as crianças não irão adquirir todas as bases que necessitam, não absorvendo conhecimento das 8 disciplinas que, aparentemente, e na sua percepção, representam todo o conhecimento do mundo.
Para quem pensa dessa forma, importa transmitir-lhes que cada uma das nossas crianças, ao fazer projectos com base nos seus interesses, fá-lo com máxima dedicação e responsabilidade porque adora e respeita o que está fazendo, porque se sente motivado ao fazer algo que lhe desperta a curiosidade e o interesse.
Sendo uma comunidade de aprendizagem em que cada criança apresenta os seus projetos, existe uma partilha transversal de todo esse conhecimento aos seus pares e aos educadores. Ao apresentar um projeto com o qual se identifica, a mensagem passa de forma mais clara e significativa. Desta forma, a criança adquire, desde os primeiros anos, um conhecimento geral sobre variados temas e um conhecimento profundo em tópicos que lhe interessam realmente.
Pensem nisto: normalmente, começamos a especializar o conhecimento já na universidade, aos 18 anos. Se estudarmos de forma contínua e até finalizar um doutoramento, terminamos com 25 anos. Sendo factual que o pico da capacidade de aprendizagem do ser humano é quando nasce e que esta vem diminuindo ao longo do tempo, fará sentido termos 7 anos de aprendizagem de acordo com os nossos interesses, ao invés de 25?
Tendo isto em conta, resolvi aprofundar sobre os métodos educativos alternativos mais conhecidos: Montessori, Waldorf, Piaget. Todos eles são métodos, de facto, de boa base científica, tais como Montessori adequar tudo ao tamanho da criança ou Waldorf dar primazia do aprender através da brincadeira. Não obstante, todos eles são instrucionistas, no sentido em que é um professor a comandar o dia das crianças e a tomar decisões que controlam o horário e o calendário a ser cumprido. Apesar de serem modelos muito melhores e mais adequados do que o tradicional, ainda não eram exatamente o que estava à procura.
Saí ainda mais do circuito em busca de um modelo que eu não conhecesse e fui ver iniciativas na China, Índia, EUA, Itália e Reino Unido. Um dia, uma amiga minha, que sabia que eu estava exasperado nesta procura, com a minha filha prestes a nascer e eu ainda sem solução, introduziu-me a dois nomes que mudaram a minha vida: José Pacheco e Escola da Ponte. Essa foi a minha inspiração inicial. Em pesquisa, seguindo o rasto de José Pacheco, que tinha saído da Escola Ponte em 2004 e ido viver para o Brasil, encontrei uma referência ao Projecto Âncora, uma incrível evolução do que era a Escola da Ponte. Com a Coordenação de Edilene Morikawa e Cláudia Santos, e inspiradas por José Pacheco, criaram o mais arrojado, notável e inovador projeto de educação do mundo. Ali, eu vi que as crianças aprendiam mesmo! Elas seguiam seus interesses, aprofundando muito em cada tópico e por iniciativa própria, já que era do seu interesse aprender. Não era forçado. Não havia horários, séries, salas ou provas, e estas crianças pareciam que atuavam como se tivesse o dobro da idade em referência ao seu nível de experiência e conhecimento. Tinham mesmo mais do dobro da experiência e conhecimento que as crianças comuns porque dedicavam todo o seu tempo a aprofundar os tópicos que são de interesse e a reter a informação porque esta lhes é significante, porque tem valor para eles. Não perdiam tempo a decorar matéria fútil e desnecessária que nunca vão utilizar e que não traz qualquer valor intelectual ou humano.
Entretanto, o Projecto Âncora, um projecto de cariz social, acabou por extinguir-se por variadas razões. Felizmente, Edilene Morikawa, corajosa e empreendedora que é, não deixou morrer a chama desse incrível projeto e fundou a Escola Aberta de São Paulo (EASP). A EASP tornou-se na alma por trás do Open Learning. Nesta instituição, encontrei as pessoas mais competentes do mundo em educação e aprendizagem.
Com ajuda de Edilene, fundei em Portugal o primeiro núcleo do que viria a ser a Open Learning. O projeto tomou o nome de A Quinta, pela sua inserção dentro de uma Quinta com 7500m2, com horta e animais e que atende 24 crianças, duas delas meus filhos, a Viktoria e o Henrik.
A Quinta ajudou-me a perceber ainda mais a importância de expandir o Método Aberto de Aprendizagem (Open Learning) por todo o mundo. Os resultados foram além das minhas expectativas. A minha filha com 3 anos falava 5 idiomas e lia e escrevia em 2. Desde o primeiro ano de idade, ambos os meus filhos comunicavam por linguagem gestual. As crianças d´A Quinta, em apenas meses, mostram uma evolução incrível e que me espanta dia após dia. Ver a satisfação dos pais e sentir o seu agradecimento foram alguns dos melhores sentimentos da minha vida. Encontrei a solução, nasceu a Open Learning!