Como evitamos o Bullying na Open Learning School

Aqui na Open Learning, especialmente no Connect, recebemos muitos casos de famílias que chegam a nós pois seus filhos vêm sofrendo bullying nas escolas em que estudam.

Os casos de bullying com os quais lidamos são tanto de bullying físico, quanto verbal e também o CyberBullying, que afetam diretamente as crianças e jovens, e faz com que o estudante não queira mais frequentar o ambiente escolar.

Muitas famílias nos buscam como alternativa para que seus filhos não abandonem os estudos, e tenham um ambiente seguro para estudar, livre de bullying e agressividade.

Mas, como nós evitamos a ocorrência de Bullying na Open Learning?

Trabalhamos com nossos estudantes sob o modelo de Sociocracia, e como este modelo funciona? Na Sociocracia, não existe hierarquia entre superiores e subordinados. Todos têm o mesmo grau de importância e devem ser respeitados como tal. Não há o uso de apelidos para se referir às pessoas, a não ser que elas autorizem este uso, e normalmente são formas diminuídas do próprio nome, por exemplo, um apelido para uma estudante chamada Marcela, pode ser Má, ou Cela, porém, ela é quem deve dizer aos outros como prefere ser chamada. Os estudantes têm turnos para falar, evitando que um interrompa a fala do outro, e quando concluem seu raciocínio passam a palavra à outra pessoa, para que o diálogo continue. O volume de voz não é levantado, a comunicação é feita de forma direta e objetiva, porém de forma respeitosa e delicada. Criamos um ambiente em que as crianças aprendem a gerir os conflitos ao comunicar com clareza e sem recorrer ao uso de violência. Cada estudante é respeitado em sua individualidade, tanto por si mesmo, quanto pelos educadores e colegas.

Outro dispositivo importante na missão de evitar a ocorrência de Bullying, é o nosso currículo subjetivo. Trabalhamos com todos os nossos estudantes temas como inteligência emocional, desenvolvimento de autonomia e responsabilidades. Nestas situações, nossos estudantes aprendem a se posicionar objetivamente em relação a questões que os incomodam, expondo de forma direta, abrindo o diálogo de forma a focar no comportamento desrespeitoso, nunca na pessoa que agiu de forma desrespeitosa, mesmo sem intenção. A solução passa por relembrarmos nossos valores e retomarmos nossos acordos.

A Open Learning School é um ambiente em que o amor, o respeito e a solidariedade estão presentes nas pequenas ações do nosso dia-a-dia!

Crianças que comem com o celular: consequências e como solucionar o problema

Apenas vá a um restaurante em um sábado qualquer para perceber o quão comum se tornou a prática de dar o celular às crianças. É compreensível. Os pais precisam de um tempo em paz para conversar entre si ou com amigos, e as crianças não conseguem ficar sentadas e quietas por muito tempo.

O que acontece? A curto prazo, o resultado é positivo – as crianças se acalmam imediatamente. A longo prazo, pode haver consequências para os jovens.

Algumas consequências de permitir que as crianças comam com os olhos na tela do celular:

1 Estamos tornando-os emocionalmente incapazes

Ao entregarmos o celular ou tablet sempre que nossos filhos fazem birra, se sentem tristes ou estão entediados, pode parecer, inicialmente, que estamos fazendo um favor ao conseguir acalmá-los.

Mas, na verdade, estamos criando jovens e adultos incapazes de lidar com suas emoções, pois começam a ganhar o hábito de controlar o que estão sentindo com um elemento externo – neste caso, os dispositivos eletrônicos.

Insistir nessa prática é perder a oportunidade de ajudar a criança a ganhar um entendimento de seus sentimentos e adquirir ferramentas internas para lidar com eles.

2 Aumentamos a probabilidade de que eles desenvolvam obesidade ou transtornos de apetite

Quando comemos em frente à televisão ou ao celular, estamos menos conscientes da sensação de saciedade, o que pode levar a que comamos de forma automática, mesmo que não tenhamos fome.

Também pode acontecer o contrário: acabar por não comer o suficiente porque estamos distraídos.

Em qualquer caso, é aconselhável não usar dispositivos tecnológicos durante as refeições para que as crianças estejam mais conscientes das sensações de saciedade e fome.

3 Impedimos a comunicação em família

Esta consequência não é exclusiva das interações com as crianças. Muitos adultos veem seus relacionamentos se deteriorarem, pois os momentos que poderiam ser usados para socializar são cada vez mais afetados pelo uso de tecnologia.

Frequentemente, o momento da refeição é a única hora do dia em que a família pode se reunir e passar algum tempo juntos. Ao permitir que nossos filhos desenvolvam o hábito de direcionar toda a sua atenção para dispositivos tecnológicos durante as refeições, estamos desperdiçando uma oportunidade de nos comunicar com eles e estabelecer um relacionamento afetivo e emocional.

Família de quatro pessoas a usar telemóvel

Dicas para fazer com que nossos filhos comam sem o celular:

1 Procure entender seu filho

Quando pais e mães vão jantar fora em um restaurante, o que esperam é que seu filho fique sentado e quieto por cerca de duas horas. Isso é impossível. Uma criança pequena precisa se mover e explorar tudo ao seu redor.

O que devemos fazer nessa situação? Encurtar o tempo da refeição e, depois dela, procurar um espaço para que a criança possa correr, brincar e explorar livremente. Se sabemos que nosso filho não consegue ficar quieto na cadeira após 40, 60 minutos, é preciso planejar antecipadamente a refeição de acordo com essa duração.

Crianças a correr num parque

2 Defina normas claras.

Não adianta estabelecer limites para o uso de celulares em um dia e, no dia seguinte, voltar a dar esses dispositivos no meio da refeição simplesmente porque estamos com pressa, cansados ou impacientes para lidar com birras. É importante que essas regras estejam claramente definidas e sejam cumpridas consistentemente. Caso contrário, a criança não saberá em que dias pode ou não comer com o celular e pedirá todos os dias.

3 Dê o exemplo.

Como já mencionado anteriormente, a dependência de dispositivos digitais à mesa não é algo que acontece apenas com as crianças – provavelmente, um ou mais membros da família têm esse hábito. Antes de exigir que a criança mude um hábito, é importante que os pais sejam os primeiros a modificar seu comportamento.

Como levar a pedagogia Open Learning para as suas férias?

A época das férias de verão acaba de começar e é normal que queira prolongar o contacto dos seus filhos com a nossa pedagogia, mesmo durante este período. Caso as suas crianças não frequentem uma das nossas unidades, esta poderá ser a altura do ano ideal para experimentar uma abordagem educativa que esteja mais alinhada com a experiência que gostaria de proporcionar aos seus filhos.

Na Open Learning, procuramos que as crianças estejam no centro da sua própria aprendizagem, sendo capazes de explorar a sua curiosidade, paixões e interesses de forma ativa – ou seja, aprender através da prática. Neste artigo, iremos apresentar algumas atividades que demonstram como os princípios da nossa pedagogia podem ser aplicados num contexto mais lúdico e que poderá querer experimentar com os seus filhos durante estas férias de verão.

Explorar a Natureza

Hoje em dia, as crianças estão habituadas a ter tudo rapidamente e sem esforço. Estão acostumadas a uma velocidade que não corresponde ao ritmo natural das coisas. O contacto com a natureza permite aos nossos filhos aprender que, na realidade, no seu estado mais puro, as coisas levam tempo.

Plantar tomates, observar uma flor a crescer ou fazer caminhadas  – através destas experiências as nossas crianças aprendem a ser mais pacientes e capazes de viver sem serem reféns da sua impulsividade.

Experiências sensoriais

A educação sensorial, que valoriza a importância dos sentidos no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança, é uma ótima forma de estimular o desenvolvimento intelectual dos jovens.

Aqui, mais uma vez, explorar a natureza pode ser uma boa atividade para despertar os sentidos dos nossos filhos, mas não é a única opção. Pintar com os dedos, ajudar a fazer um bolo, brincar com plasticina, e tocar, cheirar e ouvir materiais naturais como arroz, areia e feijões – tudo isto permite educar a sua sensibilidade. O importante nestas atividades não é proporcionar uma quantidade excessiva de estímulos aos jovens, mas, sim, uma quantidade suficiente para refinar a sua capacidade de perceção sensorial.

Leitura

Um aspeto fascinante da leitura é que ocorre sempre ao ritmo de quem lê. Adaptamos a velocidade consoante aquilo que estamos a ler, voltamos atrás quando não compreendemos algo e continuamos assim que tenhamos assimilado a informação. Temos controlo sobre aquilo que aprendemos e a rapidez com que o fazemos.

Para além disso, a leitura trabalha a nossa imaginação. Tal não acontece quando temos imagens a ser constantemente bombardeadas por ecrãs, que diminuem a nossa capacidade de refletir, imaginar e criar as nossas próprias opiniões, pois tudo o que nos é apresentado já está pensado por nós. Quando as crianças leem, pensam sozinhas, criam uma representação mental única do que acabaram de ler e desenvolvem espírito crítico.

Brincadeiras em grupo

Se os seus filhos vão de férias com outras crianças, porque não permitir que trabalhem em  conjunto para criar algo divertido? Tal poderá incluir construir uma cabana no quintal, realizar uma experiência de forma segura ou mesmo organizar uma caça ao tesouro.

O importante aqui é que a atividade escolhida seja suficientemente desafiante para precisarem da ajuda uns dos outros para a concluírem com sucesso. Ao trabalhar em conjunto, as crianças aprendem a partilhar ideias, a tomar decisões em grupo, a resolver conflitos e a valorizar a contribuição de cada elemento.

Brincadeira livre

A brincadeira livre também é uma oportunidade para as crianças explorarem os seus interesses e as suas paixões. Permita que os seus filhos sejam protagonistas ativos da sua aprendizagem, deixando-os seguir a sua curiosidade e sentir-se autorealizados com as suas descobertas.

Tudo tem potencial para ser brincadeira, no entanto, evite que as atividades escolhidas necessitem de pilhas, botões ou ecrãs. O que vimos relativamente à leitura também é aplicável aqui. O importante é que seja a criança a ter iniciativa e a pensar – e não que seja um brinquedo a funcionar por ela.

Lembre-se de que o papel dos adultos durante a brincadeira livre é observar, apoiar e incentivar, em vez de guiar ou controlar a atividade. Esteja presente para garantir a segurança das crianças, mas dê espaço para que possam tomar a iniciativa e encontrar as suas próprias soluções.

Existem inúmeras atividades que se podem realizar nas férias e que se enquadram na abordagem das unidades Open Learning. Neste artigo, compilámos uma lista limitada, mas que engloba alguns dos fundamentos da nossa pedagogia. No entanto, o aspeto mais importante nesta lista não são as atividades em si, mas, sim, os princípios educativos que as sustentam. Lembre-se de valorizar a curiosidade, a autonomia, a descoberta e o respeito pelos ritmos individuais. Boas Férias!

Porque é que as nossas crianças comem em pratos de cerâmica e não de plástico?

Muitos dos pais que visitam as nossas unidades ficam surpreendidos ao ver crianças em idade pré-escolar manusearem talheres de inox, bem como pratos e copos feitos de materiais que podem se partir caso não sejam tratados com cuidado. No entanto, esta escolha deliberada de usar pratos e copos de materiais delicados tem uma base educativa forte e que é fundamental para perceber a essência da nossa pedagogia.

Neste artigo, vamos explorar o motivo desta abordagem, destacar os seus benefícios para o desenvolvimento das crianças e responder a algumas das dúvidas mais frequentes relacionadas com este assunto.

Atividades práticas do cotidiano

Nas nossas unidades Open Learning, reconhecemos a importância das atividades práticas do cotidiano, um conceito introduzido pela educadora visionária Maria Montessori com o intuito de descrever uma variedade de tarefas importantes no dia a dia de crianças e adultos. Com atividades que vão desde o simples lavar das mãos antes e depois das refeições até arrumar um espaço, regar plantas sem molhar o chão, lavar a louça, pôr a mesa ou mesmo cozinhar, as crianças têm a oportunidade de adquirir competências essenciais para a vida. Ao participar ativamente nestas tarefas, ganham independência, desenvolvem concentração e fortalecem a sua autoconfiança.

Qual a importância destas atividades para as crianças?

Independência: Através de atividades como pôr a mesa, servir comida e limpar, as crianças aprendem a assumir responsabilidades pelo ambiente que as rodeia.

Capacidades motoras: Muitas destas atividades requerem movimentos precisos, coordenação mão-olho e capacidades motoras finas. Verter água, cortar alimentos ou utilizar utensílios de inox para comer envolvem um toque delicado e um controlo refinado das mãos.

Aprendizagem Significativa: A atribuição de significado e relevância aos conteúdos aprendidos, relacionado-os com experiências prévias, cria uma ligação mais profunda com o conhecimento, tornando a aprendizagem mais relevante para as crianças.

Concentração: Embora estas atividades possam parecer simples para nós adultos, elas requerem que as crianças estejam inteiramente focadas na tarefa em questão. Esta capacidade de concentração será uma mais-valia quando for necessário lidar com tarefas mais complexas.

Organização: Um ambiente ordenado contribui para uma mente organizada. Ao realizar estas tarefas, compreendem que cada atividade tem uma sequência específica e que manter um ambiente arrumado e estruturado permite uma conclusão mais fácil e eficiente das tarefas.

Competências sociais: As atividades da vida prática implicam, frequentemente, a interação com os outros. As crianças aprendem a trabalhar de forma harmoniosa e respeitosa em comunidade.

Porquê pratos de cerâmica?

Correção do Erro

Uma das principais razões pelas quais os nossos jovens comem em pratos de cerâmica, em vez de em pratos de plástico, é para lhes dar a oportunidade de aprender com os seus erros e desenvolver um sentido de responsabilidade. Esta correção não tem a ver com apontar e corrigir erros, mas sim com encorajar as crianças a reconhecê-los de forma autónoma e a tomar as medidas necessárias para os retificar.

Ao contrário do que acontece com os pratos de plástico, que podem resistir a um manuseamento descuidado, os pratos de cerâmica são delicados suscetíveis a partir-se. Quando a criança deixa cair um prato, depara-se imediatamente com o resultado da sua ação. Esta relação de causa-efeito contribui para uma maior consciencialização, responsabilidade e respeito pelo ambiente que a rodeia.

Outro elemento que cumpre esta função são as caixas com diferentes formas geométricas recortadas na parte superior. Para a criança conseguir colocar um cubo dentro da caixa, terá de encontrar a ranhura quadrada, caso contrário, a peça não irá encaixar. Ou seja, através do manuseamento daquele material, a criança é capaz de se autocorrigir e perceber se está a realizar a ação de forma adequada ou não.

Este tipo de recursos, que permitem a criança aprender por si própria, sem nenhuma ajuda externa ou correção de um adulto, são um dos pilares da nossa pedagogia, dado o seu papel fundamental para a criação de uma aprendizagem significativa e independente.

Adicionalmente, caso uma criança deixe cair um prato, podemos utilizar essa situação para criar mais um momento de aprendizagem relevante ao demonstrarmos o que fazer quando algo do género acontece. Encorajamos as crianças a participar no processo de limpeza, explicamos como apanhar as peças partidas de forma cuidadosa e como deitá-las fora em segurança. Este tipo de atividade não só cultiva um sentido de responsabilidade pessoal, como também desenvolve a sua capacidade de resolver problemas, uma vez que a criança aprende a analisar a situação, a pensar de forma crítica e a contribuir ativamente para a resolução do problema.

Comer em pratos de cerâmica incute um sentido de cuidado e respeito pelos objetos que usamos diariamente. As crianças compreendem rapidamente que alguns materiais requerem um manuseamento cuidadoso, atenção e um nível de sensibilidade elevado. Esta mentalidade estende-se para além do domínio dos pratos, refletindo-se nas abordagens adotadas pelos jovens noutros aspetos das suas vidas.

Educação sensorial

Além da correção do erro, outro motivo que nos leva a optar por pratos de cerâmica está relacionado com a importância da educação sensorial no desenvolvimento das crianças. Numa etapa infantil, os jovens aprendem através das relações interpessoais e das experiências sensoriais.

Quem já nos visitou sabe que valorizamos a aprendizagem multissensorial das crianças. Temos espaços rodeados de natureza e animais onde as crianças podem tocar e explorar diferentes texturas, cheiros e sons. Este alargamento do vocabulário sensorial permite que elas façam conexões mais profundas com o mundo que as rodeia e desenvolvam capacidades cognitivas essenciais como preparação para a educação intelectual que virá mais tarde.

Através da utilização de pratos de cerâmica, copos de vidro e talheres de inox, as crianças têm a oportunidade de expandir ainda mais a sua experiência sensorial durante as refeições. Cada material possui características únicas que proporcionam estímulos táteis, visuais e até mesmo sonoros. O uso destes materiais texturalmente diversos permite que as crianças desenvolvam a sua sensibilidade, organizem as sensações e afinem a sua perceção.

Mas não é perigoso?

Esta é uma pergunta comum e completamente justificada dos pais nas suas primeiras visitas às Open Learning Schools. Usar materiais indestrutíveis pode parecer uma solução mais segura, pois estaremos a eliminar a possibilidade que algum deles se partir e criar uma situação de perigo.

No entanto, é importante destacar que a introdução destes materiais na rotina das crianças é feita de forma gradual e cuidadosa. Não começamos de imediato com um conjunto de mesa delicado durante os lanches ou almoços. Iniciamos o processo introduzindo os pratos de cerâmica primeiro, dando o tempo necessário às crianças para se familiarizarem com o peso e a sensação destes objetos.

Além disso, os nossos tutores estão sempre presentes nestes momentos para guiar e supervisionar todo o processo, estando sempre atentos às necessidades individuais de cada criança, de forma a  oferecer o apoio e orientação adequados, especialmente a crianças que não estão habituadas a comer com estes materiais.

Por último, é importante mencionar que tanto os pratos como os copos são feitos de materiais resistentes que aguentam impactos ligeiros e que foram construídos para que, caso se partam, não se estilhacem em pequenos fragmentos, mas sim em pedaços maiores e menos afiados.

Quando devo começar a utilizar este tipo de materiais na rotina dos meus filhos?

Cada criança é única, portanto, é essencial respeitar o ritmo e as necessidades individuais de cada uma. Algumas crianças podem estar prontas para utilizar materiais delicados mais cedo, enquanto outras poderão desenvolver a destreza necessária apenas mais tarde.

Normalmente, por volta dos dois ou três anos de idade, a coordenação motora das crianças já está suficientemente desenvolvida para começar a experimentar comer com materiais mais frágeis.

Quando considerar que o seu filho está preparado, comece a apresentar os objetos de forma gradual durante as refeições e sempre com a sua supervisão. Aos poucos, irão ganhar mais confiança, responsabilidade e sensibilidade com os objetos mais delicados.

3 Mitos da Educação

Muitas vezes aceitamos certas informações como verdades absolutas sem questionarmos como se chegou a essas conclusões. Muitas teorias do âmbito educativo são amplamente aceitas, tanto por pais como educadores, apesar de a sua veracidade já ter sido desafiada ou até mesmo refutada. Se queremos promover o sucesso académico e o desenvolvimento pessoal dos educandos, é fundamental que todas as teorias e práticas educativas sejam validadas através dum processo científico rigoroso.

Neste artigo, analisamos 3 teorias amplamente aceitas pela sociedade, mas que carecem de provas científicas robustas para serem consideradas boas práticas educativas. Ao questionar essas teorias e fornecer alternativas cientificamente comprovadas, esperamos contribuir para um diálogo mais crítico e fundamentado sobre a educação.

O mito dos 3 primeiros anos

Um dos mitos educativos mais comuns é o mito dos primeiros três anos. Esta teoria afirma que o desenvolvimento cognitivo da criança é determinado quase integralmente pelos seus primeiros três anos de vida e que, caso não seja estimulada adequadamente durante este período, o seu desenvolvimento pode ficar comprometido irreversivelmente. Isto pode levar os pais a pensar que têm de “investir tudo” nos primeiros anos de vida dos seus filhos.

É verdade que é durante os primeiros três anos de vida que os neurônios e ligações sinápticas (ligações entre neurônios) se multiplicam. No entanto, esta multiplicação ocorre de forma natural, de forma inata. Necessita do ambiente para ocorrer, mas não de um ambiente de superestimulação. Em um ambiente normal, onde existe uma quantidade mínima de estímulos, o desenvolvimento cognitivo irá decorrer de forma natural.

Esta teoria ganhou popularidade na sequência de uma experiência realizada com ratos. Os ratos que se encontravam numa caixa com túneis e rodas apresentavam melhor desenvolvimento do que aqueles que tinham sido colocados numa caixa escura. O problema desta experiência é que não é possível concluir que um aumento de estímulos numa fase inicial leva a uma vantagem cognitiva em relação a um ambiente com uma quantidade normal de estímulos. Tudo o que esta experiência demonstrou foi que existe uma diferença entre um ambiente estimulante e uma carência drástica de estímulos, mas não se pode concluir que mais é melhor. As crianças não vivem em caixas escuras.

É importante lembrar que o desenvolvimento cognitivo é um processo contínuo e que a criança irá continuar a aprender e a crescer ao longo da vida, não apenas nos primeiros três anos. É necessário um equilíbrio saudável entre estimulação e descanso para que a criança possa desenvolver-se de forma plena e saudável.

 

O mito do enriquecimento

Outra teoria bastante difundida, e que está relacionada com o mito anterior, é a do enriquecimento. Esta teoria sugere que é necessário enriquecer o ambiente em que a criança se encontra para promover o seu desenvolvimento cognitivo e intelectual. Isto pode incluir oferecer brinquedos mais complexos, atividades extracurriculares e aulas especializadas em diferentes áreas, como música, dança, artes e ciências.

O problema com esta abordagem é que assume que, na infância, existe um período crítico (janela temporal que não se repete) durante o qual o cérebro das crianças é maleável e está receptivo a desenvolver diversas capacidades. Segundo a teoria, depois deste período crítico, é praticamente impossível uma pessoa adquirir alguns tipos de competências. 

Este conceito tem sido alvo de debate e investigação, havendo muitos especialistas a defender que, em vez do período crítico, existe sim um período sensível, durante o qual é mais fácil e eficaz adquirir certas competências, embora seja ainda possível desenvolvê-las mais tarde ao longo da vida – como é o caso da aprendizagem de uma segunda língua.

A teoria do enriquecimento pode ser perigosa para as crianças, especialmente quando levada ao extremo. Muitos pais e professores acreditam que é necessário sobrecarregar os jovens com uma quantidade excessiva de atividades e estímulos para promover o seu desenvolvimento. Tal pode levar a uma pressão excessiva, aumentando o risco de estresse, ansiedade e problemas emocionais.

Além disso, a teoria do enriquecimento é muitas vezes baseada em premissas errôneas sobre o desenvolvimento infantil. Por exemplo, muitos acreditam que a exposição precoce a atividades acadêmicas fará com que a criança tenha “vantagem” sobre as outras. No entanto, a pesquisa sugere que, nas fases iniciais do desenvolvimento da criança, a brincadeira não estruturada, o contato com a natureza e as relações sociais saudáveis são fundamentais para o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança.

As múltiplas inteligências

A teoria das múltiplas inteligências, proposta por Howard Gardner em 1983, é outro mito que é aceito amplamente, tanto por professores como por pais. Esta teoria sugere que a visão tradicional da inteligência (inteligência psicométrica), medida através do popular teste do coeficiente intelectual, é muito limitada e não tem em consideração todas as dimensões de uma pessoa.

De acordo com Gardner, existem oito tipos de inteligência:

  1. Linguística
  2. Lógico-matemática
  3. Espacial
  4. Musical
  5. Corporal-cinestésica
  6. Interpessoal
  7. Intrapessoal
  8. Naturalista

Apesar de muitas pessoas aceitarem esta teoria como correta, a mesma apresenta algumas falhas. Uma das principais críticas é a falta de provas empíricas que corroborem a existência de oito tipos diferentes de inteligência, bem como a impossibilidade de medir estas inteligências, visto que não existem testes padronizados e cientificamente validados. Grande parte da pesquisa realizada por Gardner foi documentada através de observações casuais e experiências pessoais. Esses fatores sugerem que a teoria não é viável e carece de validade científica.

Um dos críticos mais proeminentes desta teoria é o psicólogo e investigador educativo Daniel Willingham. No livro “Por que os alunos não gostam da escola?”, Willingham afirma que a teoria das múltiplas inteligências não é baseada em nenhuma prova empírica válida e não é consistente com o que sabemos sobre o cérebro humano e o desenvolvimento cognitivo.

Além disso, alguns investigadores argumentam que as categorias de inteligência elaboradas por Gardner são demasiado abrangentes e não são uma representação fiel da sua complexidade e natureza multifacetada. Por exemplo, as categorias “interpessoal” e “intrapessoal” são muito ambíguas e sobrepõem-se, enquanto que a “naturalista” é demasiado específica.

Outra crítica direcionada a esta teoria é que a mesma pode limitar as crianças desde uma idade muito precoce. Por exemplo, se alguém diz que o filho tem baixa inteligência lógico-matemática, tal poderá levá-lo a pensar que não tem aptidão para essa área e desmotivá-lo a aprender mais sobre o tema. Embora seja verdade que todas as pessoas têm pontos fortes e fracos, é importante que as crianças sejam expostas, desde cedo, a uma ampla variedade de conhecimentos, em vez de serem direcionadas apenas para as áreas em que são consideradas “inteligentes”.

Em vez de se concentrarem em competências ou traços específicos, é importante que os pais e educadores reconheçam que a inteligência é maleável e que todas as suas componentes podem ser desenvolvidas com prática e esforço.

A importância da Educação

A educação é um processo fundamental para o desenvolvimento humano e para a construção de sociedades justas e inclusivas. As Escolas devem ter em si a responsabilidade de mais do que  transmitir conhecimentos, habilidades e valores que possibilitam a cada um de nós compreendamos o mundo, mas devem ser também potenciar que cada criança possa exercitar sua cidadania e participação ativa na vida social.

Como direito fundamental reconhecido internacionalmente, consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e em outras convenções e tratados internacionai, para a Open Learning School a educação é um instrumento fundamental para assegurar a igualdade de oportunidades e a eliminação de todas as formas de discriminação e exclusão.

Para além de tudo isto, a educação é também um fator determinante para o desenvolvimento económico e social do país. Esta, se devidamente aplicada, promoverá o aumento da produtividade e da inovação, além de contribuir para a redução da pobreza e da desigualdade.

A educação desempenha igualmente um papel importante na formação de cidadãos críticos e conscientes, capazes de tomar decisões informadas e participar ativamente da vida política e social. A educação é um meio para fomentar a democracia e o respeito às diferenças, além de promover a paz e a tolerância entre os povos uma vez que permite uma maior consciência do outro, do seu contexto e como tal uma maior empatia.

No entanto, apesar de todos os beneficios mais que evidentes que a educação nos traz, ainda existem desafios para garantir o acesso universal e de qualidade à educação em muitos países. A falta de investimento, a desigualdade social, a discriminação de género e étnica, entre outros fatores, podem dificultar o acesso à educação para determinadas populações.

Como tal, é fundamental que as sociedades e os governos promovam políticas públicas eficazes e justas de educação, que assegurem o direito de todos à educação e garantam o acesso de qualidade a todos os níveis e modalidades de ensino.

Em resumo, a educação é um processo vital para o desenvolvimento humano e social, e sua importância é inegável. Ela é fundamental para garantir a igualdade de oportunidades, o acesso ao conhecimento, o exercício da cidadania e o desenvolvimento económico e social de um país. Portanto, deve ser valorizada e investida como um direito fundamental e um bem público inestimável.