Como funciona uma unidade Open learning School nas idades dos 0 aos 6 anos de idades?

12 de janeiro de 2023

Desde o inicio deste projeto que somos praticamente todos os dias inundados com questões sobre como funcionam as nossas Escolas.

Com o objetivo de poder explicar em detalhe como tudo se processa, partilhamos com todos neste artigo uma explicação com base nas perguntas que nos são mais colocadas sobre tudo o que há para saber sobre a Open Learning School.

Como é o início de dia na Open Learning School?

Uma das coisas que mais comentamos com os pais e curiosos que nos visitam é que a disponibilidade que conseguimos ter reflete-se naquilo que são os diferentes momentos da nossa rotina, e no impacto que acabamos por ter na vida das crianças. A Escola tem efetivamente um horário de abertura e um horário de fecho, criado em acordo com as famílias e em conversa com a própria equipa chegámos à conclusão de quais os horários que faria sentido termos momentos de maior foco e mais orientados, que consideramos como momentos de trabalho. No inicio de cada dia, convidamos as famílias a chegarem, a estarem connosco, naquilo que é um inicio de dia significativo para todos, e acima de tudo para as crianças que estão connosco todos os dias. 

Uma familia que deixa o filho connosco, sente-se segura, estão confortáveis, e acaba por ser um ótimo indicador para o dia que vem, permitindo assim que estejam à vontade e descansados. Nós incentivamos muito que os pais estejam connosco para perceber como tudo funciona. Mais do que falar connosco ou ouvir as nossas tutoras, o objetivo é que possa ver e sentir o ambiente e a nossa forma de atuar. Por isso as famílias chegam, estão connosco e à vontade.

Depois, de uma determinada hora, sensibilizamos as famílias para a importância de estarmos só nós com as crianças, para que de certa forma o dia possa iniciar, e que assim tudo flua, dentro daquilo que é a nossa organização. Tudo acontece, de forma natural as crianças vão sentir este tempo como delas, as crianças mais velhas vão para a tenda onde organizam o seu dia, os mais novos organizam o seu dia no espaço exterior para juntamente com os tutores decidirem como querem iniciar o seu dia-a-dia. 

Como funciona a alimentação na Open Learning School?

A tipologia da alimentação em si pode variar de unidade para unidade, isto é se é somente à base de comida vegan ou se também se recorre a peixe e carnes. Não obstante, no que toca ao procedimento e à ideia por de trás de cada refeição essa acaba por ser transversal a todas as unidades.

O almoço é algo que também nos distingue naquilo que é uma rotina típica de Escola. Não há um horário imposto em que todas as crianças se tem de sentar e nutrir-se ao mesmo tempo. O que procuramos fazer é sim sensibilizar as crianças para a importância da refeição em si, mas estamos consciente de que uma criança que chegou mais tarde, que tomou um pequeno-almoço mais reforçado, elas não tem de alimentar à mesma hora que as outras crianças só porque sim. Elas não tem de estar divididas. Aquilo que é típico de numa escola de diferentes horas de um grupo para almoçar connosco não acontece. Nós procuramos minimizar as ansiedades de uma hora de almoço, da própria refeição, ou porque a criança não tem fome e os adultos á volta dizem que se tem de comer tudo o que está no prato. Outro mito como tem de comer a sopa antes do prato principal, o que nós procuramos acima de tudo é flexibilizar. Existe sim uma postura a ter à mesa, mas depois também existe uma flexibilidade da nossa parte em perceber que, até por motivos culturais, estar à mesa é mais do que uma tarefa, é sim um espaço também de conversa, convívio, brincadeira, e isso pretendemos respeitar e manter igualmente nas nossas unidades. 

Também não existem lugares marcados para almoçar. Se hoje as crianças estão a conversar mis com uma criança e no outro dia com outra, é natural que queiram e possam almoçar com quem quiserem, e por isso não existe qualquer tipo de obrigatoriedade quanto a esse aspecto. Internamente, quando pensamos em todos estes hábitos que se incutiram naquilo que é muito a cultura escolar em Portugal, facilmente chegamos à conclusão que são alteráveis e que na verdade se mantiveram porque outras escolas e pessoas já o faziam, sem necessariamente existir um motivo sustentado para o mesmo.

Em regra, todas as nossas crianças entre as 11h30 e as 13h já almoçaram. Naquilo que é um processo muito natural. Temos pais nossos que nos acompanham na formação ou pais que estiveram connosco na altura do almoço. A maior surpresa é a tranquilidade com que tudo acontece. 

Tamanho e espaço

A cozinha foi desenhada e construída a pensar naquilo que são as necessidades das crianças e para garantir que todos os alimentos e utensílios estão ao alcance destas. Isto permite que possamos dizer com orgulho que são as crianças que colocam a mesa delas e que a levantam quando terminam, que passam os partos por água, que questionam a tutora que está na cozinha sobre o que podem fazer. São as crianças que dizem o que lhes apetece comer, e se existe algum alimento que não pretendam comer, não as obrigamos e sempre em constante articulação e na mesma linha de pensamento que os pais.

Na maior parte das vezes o almoço acontece no exterior. Procuramos sempre que as crianças participem naquilo que faz parte da refeição. Desde a confecção, como preparar e organizar a mesa. E tudo isto acontece mesmo com crianças de tenra idade, uma vez que desde cedo procuramos potencializar a autonomia de forma muito natural e harmoniosa. Isto é algo para o qual todos os adultos estão sensíveis.

Com tudo isto as crianças conseguem ter uma melhor relação com o momento da alimentação, conseguem “ouvir” o que lhes disse o seu corpo e saber quando querem comer. 

Este é no nosso entender um dos momentos mais importantes do dia. Se em algumas escolas pode ser um momento de tensão, na Open Learning School procuramos que seja exatamente o oposto. Um momento de tranquilidade, convívio e que pode de forma positiva impactar o resto do dia. 

Como é o momento da sesta?

Nas idades dos 0 aos 5 costumamos ter uma sesta. Procuramos desde sempre promover junto da criança a capacidade que elas tem de conhecerem o seu corpo e energia e saberem se tem ou não sono. 

Cada criança tem a sua própria rotina. Alguma dorme de manhã, outras de tarde, sendo que a larga maioria dorme depois do almoço. Nunca obrigamos ninguém a dormir. Nada bom vem do facto de obrigarmos uma criança a dormir, até porque elas sentem que isso é algo que é imposto e não factual. 

Todas estas ações surgem de diálogo e conversas, quer com os pais como com as crianças, procurando sempre incentivar que sejam as crianças a tomarem a decisão daquilo que é o melhor para si. O que fazemos sempre, e até temos como linha orientadora é que cada caso é um caso, e cada dia, é um dia diferente que pode necessitar de diferentes ações.

Como trabalhamos a mediação de conflitos?

Crianças a disputar brinquedos ou que queriam brincar a jogos diferentes, são várias vezes situações que podem suceder, e que acabam invariavelmente com um adulto a tomar a decisão pela crianças. Para nós, na Open Learning, esta atitude não podia estar mais errada.

Na Open Learning School sempre que existe alguma criança que esteja por exemplo a disputar um brinquedo, um tutor coloca-se ao nível da altura das crianças e diz uma das frases mais simples mas também mais importantes em toda esta dinâmica: “Como é que te posso ajudar?”. Esta questão, ainda que pareça simples é na verdade a porta de entrada para nos mostrarmos, enquanto adultos, disponíveis para ajudar, sempre de forma tranquila. 

Neste momento esperamos uma resposta e mediamos a partir daqui. Se uma das crianças está mais ansiosa e procurarmos tranquilizar. Isto acontece numa fase embrionária das crianças que estão na Quinta que ainda possam não ter as ferramentas necessárias para gerir este tipo de interações.

Vamos dar o exemplo do que acontece na maioria das famílias/ escolas:

Usando o mesmo exemplo anterior, as crianças estão a disputar um brinquedo. Um adulto chega e diz “se não conseguem brincar, então ninguém brinca” e fica com o brinquedo ou o adulto pergunta quem tinha o brinquedo primeiro, e dá o brinquedo a essa criança. 

São vários os problemas com este tipo de comportamentos que estamos aqui a mencionar:

  1. não estamos a dar as ferramentas às crianças para solucionarem este tipo de problemas; 2) não estamos a ajudar as crianças que possam ter alguma dificuldade na gestão desta frustração sempre que situações como esta acontecem; 3) não estamos a agir como mediador mas sim como o adulto que tem poder e que mesmo que não estando naquela brincadeira acaba por ser a pessoa que detém a ultima palavra e que não é questionável.

Mas depois, exigimos às crianças que tenham a capacidade para se envolverem, para solucionarem por si mesmas estas “brigas” quando nunca incentivámos ou criámos contexto para que elas pudessem saber como lidar. É obvio que tudo isto exige tempo, disponibilidade, mas tudo isto é possível.

 

Qual a importância das atividades?

Consideramos as atividades como um momento de autonomia , que em regra precede o lanche.

Muitas vezes somos questionados por parte dos pais “o meu filho tem 2 anos, por isso como é que vão de encontro aos interesses dos nossos filhos e potenciá-los ao máximo se eles não nos dizem quais são os seus interesses?” 

Nós consideramos que nestas idades, o objetivo passa muito por que experimentem coisas diferentes. Aumentar o seu repertório, permitindo assim um maior contacto com um maior número de atividades. Seja de brincadeiras, de livros, técnicas de pintura, capacidades de motricidade fina e grossa. O nosso objetivo é lhe proporcionarmos “um mundo” de possibilidades e interesses ao invés de serem as próprias crianças a nos dizerem o que lhes interessa, até porque existe muito a ideia de que as crianças nos vão dizer o que lhes interessa oralmente, quando nem sempre é assim. Um olhar atento aos comportamentos e atitudes das criança pode-nos dizer muito mais do que seja o que a criança nos disser. 

Conseguimos perceber que uma criança que manifesta especial interesse em estar no exterior, em desafiar-se fisicamente, talvez queira dizer que tem mais interesse em atividades ao ar livre e é por ai que “devemos ir”.

Uma criança que numa leitura de histórias consegue por muito pouco que seja consegue manifestar uma maior possibilidade de foco e e interesse, talvez também seja por ai. 

Procuramos também muito o contacto com os animais que temos nas nossas unidades. O objetivo é aumentar aquilo que é a consciencialização do que são os animais, como se comportam, as suas emoções e obviamente sempre com respeito e liberdade. 

Tudo isto só é possível porque há um adulto por perto, atento aos sinais e por isso mais próximo de identificar aquilo que são interesses e atividades que a criança queira realizar, mesmo que nunca o tenha dito.

 

Qual a importância dos espaços exteriores?

O espaço exterior abre um mundo de possibilidades para as crianças. É a possibilidade de correr, tocar, brincar, e experimentar todo o tipo de brincadeiras num contexto que é perfeito para o desenvolvimento da componente sensorial.

Os 5 sentidos é importante que sejam potencializados ao máximo, sobretudo desde pequenas idades. Nas nossas unidades as crianças temos todo o tipo de pavimentos, permitindo que andem descalças e assim que possam sentir e desenvolver o tacto; temos uma zona com relvado sintético, tudo pensado para despertar o tacto, de sensações. O corpo da criança adapta-se e ajusta-se, sempre de forma natural. 

Temos vários edifícios em diferentes tipos de madeira, temos espaços de brincadeira para potencializarem a destreza motora, com obstáculos, com estruturas criadas e construídas pelas próprias crianças tornando o espaço cada vez mais “seu”. 

Nas nossas unidades temos também horta, um espaço tão importante para explicar o como surgem alguns dos alimentos, como é importante o respeito pela natureza, como cultivar. 

Os espaços exteriores, sobretudo depois da pandemia, tem sido cada vez mais procurados pelas famílias, não só em contexto de habitação mas igualmente no tipo de escolas que procuram para os seus filhos. E na verdade, os espaços corretos e devidamente usados podem ser uma ótima ferramenta para o desenvolvimento das crianças, quer duma ótica cognitiva como motora, e é muito bom saber que nas nossas unidades, poderá encontrar tudo isto.

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