Como desenvolver a inteligência emocional nas crianças?

27 de agosto de 2022

É cada vez mais consensual, entre as diferentes áreas profissionais, que a Inteligência Emocional desempenha um papel de grande destaque quando se fala em sucesso, quer seja ele profissional, pessoal, social ou escolar.

A Inteligência Emocional é um tema que foi mediatizado recentemente, mas a verdade é que este conceito remonta à época de Charles Darwin que nas suas pesquisas concluiu que as emoções eram essenciais na adaptação e evolução das espécies.

Com o passar do tempo, diversos outros cientistas foram desenvolvendo esta teoria e em 1990, este tema voltou a ser valorizado, pelos pesquisadores Peter Salovey e John Mayer.

No entanto, o mais provável é que já se tenham cruzado com este conceito associado ao nome de Daniel Goleman, escritor de renome internacional, psicólogo e jornalista da ciência. Foi ele que o tornou este conceito de Inteligência Emocional conhecido mundialmente através do seu livro Inteligência Emocional, publicado 1995.

Desde esta altura que este conceito tem vindo a ganhar força e tem sido investigado por várias personalidades, mas neste curso vamos abordar a Inteligência Emocional partindo do conceito de Daniel Goleman.

Então, de uma forma muito simples, afinal que é isto de Inteligência Emocional?

A Inteligência Emocional é a “capacidade que de identificar os nossos próprios sentimentos e também os sentimentos dos outros e por outro lado conseguirmos motivar-nos e gerir os impulsos dentro de nós e nos nossos relacionamentos”.

Para ficar mais simples de entender, vamos olhar para os cinco pilares que Daniel Goleman apresenta.

  • Autoconhecimento
  • Autorregulação
  • Automotivação
  • Empatia
  • Aptidões sociais e de relacionamento

Vamos começar pela primeira competência, que nos diz respeito a cada um de nós, enquanto indivíduo.

Autoconhecimento

É o conhecimento sobre o que estamos a sentir, de forma individual, conseguindo perceber e analisar as nossas emoções bem como respostas que damos face a determinados estímulos. Isto quer dizer que conseguimos identificar quais os gatilhos emocionais que nos impelem a responder de determinada forma.

Esta é a grande chave da Inteligência Emocional. Não podemos desenvolver outras competências, sem que este primeiro pilar esteja totalmente consolidado.

É muito importante que tenhamos consciência de que a Inteligência Emocional é um processo gradual e que varia de pessoa para pessoa e acima de tudo que requer treino. Não importa se no início toma muitas decisões, sem saber muito bem porque é que as tomou. A primeira vez que tomar consciência da emoção que esteve presente, já fará parte do primeiro passo, desse grande caminho, que poderá ser mais ou menos curto para cada um de nós.

O meu convite é que tire 5 minutinhos do seu dia e tente observar o que aconteceu ao longo do dia, para que possa tomar contacto com as suas próprias emoções. Como se foi sentindo? Em que momentos? Quais os motivos que o levaram a sentir-se dessa forma? Vá aprofundando essas razões e as diversas emoções. Pode em seguida colocá-las num papel e depois, refletir profundamente sobre isso.

Para nos conseguirmos autorregular, é essencial conhecer as nossas emoções, pois não será possível controlar nada que nem sequer conhecemos. Escrever é apenas uma das formas de trazer para o concreto algo que foi apenas sentido, mas poderá encontrar a sua própria forma, o objetivo neste exercício é que se vá conhecendo cada vez melhor, para que a uma dada altura já seja possível identificar a emoção no momento em que está a ocorrer. Quando assim for, saberá que o pilar do autoconhecimento está a desenvolver-se.

Autorregulação

Sentirmo-nos impacientes, ansiosos, aborrecidos, eufóricos ou serenos é absolutamente normal, mas poderá ser mais fácil ou um pouco mais desafiante aprender a lidar com cada uma das emoções e regular o nosso comportamento conforme cada situação. Gostava de realçar que, regular o comportamento está relacionado com aceitar a emoção que ocorre num determinado momento e de forma consciente dar uma resposta adequada e assertiva, o que não significa não sentir ou ignorar aquela emoção, significa que com esta tomada de consciência conseguirá controlar o impulso da sua resposta. Por exemplo, poderá decidir que num determinado momento é mais adequado retirar-se da situação ao invés de dizer alguma coisa que se possa arrepender depois. Pode mesmo informar o seu filho que precisa de um momento e se for possível pode pedir ajuda ao seu parceiro para “tomar as rédeas” daquela situação.

Vou dar-vos um exemplo prático, para tornar mais fácil de entender como é que nos podemos autorregular numa situação desafiante.

Imaginem que estão num dia em que as coisas não correram muito bem e que até já conseguiram tomar consciência disso, ou seja das emoções que estão presentes, mas nesse mesmo dia, um amigo decide fazer piadas a vosso respeito. Está claramente num estado emocional que não está em sintonia com o vosso, e vocês sentem-se incomodados com aquelas piadas.

Se já tomaram consciência do vosso estado emocional das razões que vos levaram a sentirem-se assim, irão rapidamente perceber que é por isso que se estão a sentir particularmente afetados pelas piadas do vosso amigo. Isto não tem nada a ver com o vosso amigo, não significa que ele tenha más intenções em relação a vocês. Quer apenas dizer que ele se encontra num estado de espírito diferente do vosso.

A partir desta tomada de consciência, acedemos à autorregulação que nos vai permitir decidir não reagir de uma forma negativa. Neste caso em particular, podemos apenas dizer ao nosso amigo, com sinceridade, que não nos encontramos muito bem e que seria melhor que ele não fizesse piadas porque não estamos nesse “mood”.

Automotivação

Na parentalidade, muitas vezes quando nos deparamos com uma situação onde frequentemente nos sentimos dececionados, pode ser fácil deixar de investir naquilo que é o nosso objetivo inicial, contudo a automotivação permite-nos identificar a emoção, não deixando que esta se sobreponha ao nosso desejo de atingir um determinado objetivo, neste caso o reconhecimento da emoção ajuda-nos a redirecionar, a fim de alcançar a nossa meta, ou de continuar fiel à nossa intenção inicial, aceitando que independentemente de nos sentirmos frustrados ou desapontados,  conseguimos continuar motivados sem nos desviarmos do objetivo inicial.

Empatia

É muito frequente confundirmos empatia com simpatia, no entanto trata-se de conceitos distintos.

A empatia está relacionada com a capacidade de reconhecer, não apenas as nossas emoções, mas também as dos outros e mais do que isso, sermos capazes de nos colocar no lugar do outro, de compreender as suas necessidades e emoções. Mais uma vez, este pilar fica muito mais fácil de desenvolver, a partir do momento em que somos capazes de reconhecer as nossas próprias emoções, pois sem nos conseguirmos entender a nós próprios, será muito mais difícil entender os outros. De uma forma muito simples, sentir empatia é a capacidade de compreender e considerar
os sentimentos de outros, colocando-nos no seu lugar, sem julgamentos, mesmo quando não recebemos empatia por parte do outro. Neste caso é mais sobre dar do que receber. Voltando ao exemplo do nosso amigo: Conseguimos perceber claramente que ele não teve empatia com o que nós estávamos a sentir, ainda assim, a nossa resposta não foi rude, porque percebemos que ele estava com outro tipo de emoção. É preciso entender que as nossas emoções não têm mais valor do que as dos outros, aquilo que os demais sentem também precisa ser tido em consideração.
Quando nos tornamos pessoas empáticas, é natural que nos tornemos pessoas mais compreensivas.

Aptidões sociais e de relacionamento

Este é o último pilar apresentado por Daniel Goleman e diz respeito às interações humanas e a tudo o que elas representam. Todos nós precisamos e dependemos uns dos outros de alguma forma, o que torna fundamental, aprender a conviver em harmonia. Estas aptidões sociais e de relacionamento, estão relacionadas com a capacidade de nos relacionarmos de forma empática com os outros, comunicando de maneira clara e atenta à postura corporal daqueles com quem interagimos. No fundo é a orquestração de todas as competências anteriores para facilitar os relacionamentos. Então agora que já vimos os cinco pilares ou competências da Inteligência Emocional e já estão mais familiarizados com este conceito, vamos perceber onde é que isto tudo se
passa.

Apesar de falarmos em Inteligência Emocional, esta inteligência requer uma comunicação eficaz entre os centros racional e emocional do nosso cérebro, é lá que são processadas
as emoções. Ouve-se cada vez mais falar em desenvolver a Inteligência Emocional nas crianças e é precisamente por elas que vou começar, apenas por uma simples razão: o
desenvolvimento do cérebro, que é diferente nos adultos e nas crianças. Apesar de se chamar Inteligência Emocional, ela é fortemente sustentada por uma parte do cérebro que é uma das últimas a amadurecer de um ponto de vista anatómico. As crianças ainda têm a principal zona responsável pela Inteligência Emocional em desenvolvimento. Esta construção acontece de forma hierárquica de acordo com os 5 pilares que vos apresentei e ao longo do tempo.

Quanto mais pequeninas as crianças forem, mais imaturo estará o seu cérebro e por isso menos competências de Inteligência Emocional elas terão. A forma mais conhecida de todos, sobre o não domínio das competências de Inteligência Emocional, são as famosas birras, que todos já tivemos o privilégio de assistir. Estas ocorrem entre os 18 meses e até aos 5/6 anos, dependendo de alguns fatores, contudo, a fase crítica será a faixa etária dos 2 aos 3 anos.

Vamos então falar um pouquinho sobre elas…

Apesar de ser um período mais ou menos difícil de gerir, as birras são sinal de um neurodesenvolvimento normal em crianças entre os 18 meses e os cinco, seis anos de idade. São naturais, saudáveis e inevitáveis e estão longe de ser um sinal de infelicidade ou mau comportamento. Por muito estranho que pareça, são uma parte importante da saúde e do bem-estar emocional das crianças e se vierem com lágrimas, tanto melhor, pois o choro é uma forma natural de libertar cortisol, a hormona do stress. Por isso, quando as crianças choram estão literalmente a libertar o stress acumulado.

Contudo, gosto sempre de realçar que as birras, também podem causar bastante sofrimento à criança, dependendo do tipo de resposta e abordagem dos pais. Quando ignoramos a criança e a deixamos sozinha, ou castigamos, ou a obrigamos a parar com aquele comportamento, a criança pode sentir-se abandonada, perdida e até desesperada, perante aquele acontecimento que ela própria não consegue entender.

Por todas estas razões, lembre-se que é quando a criança parece mais desregulada que ela mais precisa de si para a acolher, dar um abraço sem grandes conversas, apenas frases curtas, como: “Está tudo bem, estou aqui contigo”. Apesar de terem como expressão final um comportamento, a sua origem está no cérebro.

Para que possa saber mais sobre como potenciar e desenvolver a inteligência emocional nas crianças, convido-a a assitir ao Curso: Prepare o seu filho para o mundo.

Um curso que conta com mais de 12 módulos que a irão ajudar na potencialização da sua criança. Para isso poderá aceder diretamente aqui.

Por Ana Salvador

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